Todo mundo já se arrependeu de alguma coisa. Dizem que é melhor se arrepender de algo que você fez, do que de algo que você deixou por fazer. Na maioria dos casos é bem assim, mas não sempre. Algum dia sua mãe já deve ter te dito: “pense bem antes de falar!”. A minha já, e de tanto pensar, às vezes, eu estrago tudo.
Quando você tinha toda uma possibilidade de ser muito feliz, com alguém que é realmente importante pra você, por que jogar fora? Não me pergunte, eu não sabia o que estava fazendo. O pior é errar, sabendo que a probabilidade de se arrepender é maior que a quantidade de perfumes franceses em um “free shop”.
Andei relembrando um relacionamento que tive, e que por diversas circunstâncias não deu certo. Circunstâncias mais minhas que dele. Aconteceu quando eu estava numa situação complicada, com o coração confuso (e quando eu não estou, né?). Isso tudo porque eu ainda tinha o amor-carma na minha vida. Enfim, éramos colegas e em pouco tempo passamos a ser amigos. Eu não desconfiava que ele tivesse lá uma paixonite aguda por mim, essa idéia não passava pela minha cabeça.
Certo dia ele resolveu dizer tudo o que sentia, e que não tinha falado ainda porque tinha medo de acabar nossa amizade ou sei lá o quê. O fato é que eu precisei de tempo (e muito), pra digerir isso tudo. Até que um dia, depois de muito papinho pra lá e pra cá, muita indecisão, medo de ser magoada e de magoar, eu cedi. E não vou mentir, foi totalmente diferente de qualquer coisa que eu já senti quando beijei alguém. Primeiro que foi um beijo-surpresa; e só tem primeiro, porque o resto, não sei como explicar mesmo.
Cedi, mas se engana quem pensa que com isso fiquei menos confusa. Pelo contrário. Tinha toda aquela história que todo mundo já conhece de estragar a amizade e tudo mais. E foi no meio de toda essa confusão que eu viajei, fui passar uns meses estudando em outro estado. Por uns tempos, eu me senti pressionada a decidir algo, mesmo pela internet. E resolvi que era melhor que eu fosse franca ou pelo menos, que eu mentisse se isso ajudasse as coisas a ficarem melhores entre nós dois. Fazer de conta que não significou tanto pra mim, podia tornar as coisas mais fáceis (burra, desde quando uma mentira facilita algo?).
Disse a ele que não via futuro nesse relacionamento e tudo mais. Me senti muito mal, não sabia muito bem o motivo, mas lá no fundo eu tinha certeza de que o contato entre nós iria acabar. Não tem como saber, mas acho que ele ficou realmente magoado comigo. Acertamos que a amizade continuaria, afinal, ela já existia antes disso tudo acontecer. Só que nesse meio tempo, eu mudei muito, ele mudou muito… Acabamos nos afastando e não nos reconhecendo mais.
Quando eu voltei da viagem, percebi que sentia muita falta dele, sempre. E pra piorar, na faculdade tinha um cara exatamente igual a ele, tudo igual! A voz, o jeito de andar, de sorrir, de falar, de gesticular… Era impressionante e agoniante. A cada dia eu sentia mais saudade e vontade de falar com ele. Até que resolvi mandar um email, perguntando o que tinha acontecido conosco, porque a gente não se falava mais, etc e tal.
Depois de hesitar muitas vezes, mandei o email. Uns dias depois recebi uma resposta dele, dizendo que ele não guardava mágoa de mim nem nada, só o meu jeito que não o agradava mais. Fiquei uns dias magoada, e pensando que se ele não gostava mais do meu jeito, não tinha porque ele querer manter amizade com alguém como eu.
No fim das contas, nós resolvemos tentar de novo uma amizade. Claro que eu sei que vai demorar bastante pra essa sensação estranha entre nós desaparecer. Tudo não vai voltar a ser como era antes num passe de mágica, infelizmente. Mas sinto falta, de tudo… Do amigo que eu tinha e da oportunidade que eu perdi. E eu sabia, antes de tudo desandar, eu disse a ele em tom de brincadeira: “quem sabe um dia o jogo não inverte e eu que vou ir atrás de você, e quem sabe, nesse momento você nem vai me querer mais”. E eu ri, como quem prevê o futuro e não acredita no que viu.
Já dizia Emanuel Wertheimer: “O arrependimento sincero é geralmente resultado da oportunidade perdida”. Não sei se o arrependimento maior foi ter cedido, ou ter largado depois. Ao ceder, isso colocava em risco nossa amizade. E ao desistir, eu jogava fora uma chance de ser feliz. Acho que na verdade, eu vivo boicotando minha felicidade. Quando eu tinha tudo pra ser feliz, pra conseguir fazer dar certo, eu joguei fora. Descartei como quem joga fora um chiclete sem gosto. Ele não merecia isso, e eu não merecia ele, nem o que ele sentia por mim.
Então, foi mesmo o melhor a fazer, acho que acertei mesmo errando. Ele, com certeza, encontrou alguém melhor. Ah, e eu já falei que agora quem tá indo pra outro estado estudar é ele? Pois é… O mundo dá voltas. And in many ways, it’s too late for me. Ainda bem que Voltaire me conforta: “Deus fez do arrependimento a virtude dos mortais”. Pelo menos essa virtude eu tenho. Não tenho vergonha de me arrepender de nada, afinal, só as mentes nobres não se envergonham de um arrependimento.